Pois estamos sempre sem sorte aqui. É assim mesmo que as coisas são – por exemplo no inverno. Os lados dos prédios, os telhados, os galhos das árvores ficam cinza. Ruas, calçadas, rostos, sentimentos – eles são cinza. A fala é cinza, e a grama, onde aparece. Todo flanco e frente, todo topo é cinza. Tudo é cinza: cabelo, olhos, vidro da janela, os anúncios dos ambulantes e os cartazes dos anunciantes, lábios, dentes, postes e placas de metal – são cinza, bastante cinza. Os carros são cinza. As botas, os sapatos, os ternos, os chapéus, as luvas são cinza. Os cavalos, os carneiros e as vacas, os gatos mortos na estrada, esquilos idem, andorinhas, pombos e pombas, todos são cinza, tudo é cinza e todo mundo que mora aqui não tem sorte.
(GASS, William. No coração do coração do país e outras histórias. São Paulo: Marco Zero, 1993, p. 207)
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Apnea – Sintetizadores, Pianos / Synths, Pianos
Bramir – Sintetizadores, Eletrônicos, Gravação de Campo/ Synths, Electronics, Field Recordings
Apnea – André Flores
Bramir – Diego Dias
Gravação/Recording & Master: Estúdio Marquise 51, 01/10/2019, Porto Alegre, Brasil, by Diego Dias on a ZOOM H5.
Capa/Cover: André Flores
Este disco é o resultado de uma sessão única, improvisada, sem retakes, overdubs ou edições/adições posteriores.
This album is the result of a single session, improvised, with no retakes, overdubs or later editions/additions.
Daniel Hogrefe – Sintetizadores, Eletrônicos / Synths, Electronics
Diego Dias – Sintetizadores, Eletrônicos, Gravação de Campo/ Synths, Electronics, Field Recordings
Gravação/Recording & Master: Estúdio Marquise 51, 27/08/2019, Porto Alegre, Brasil, by Diego Dias on a ZOOM H5.
Capa/Cover: Daniel Hogrefe
Este disco é o resultado de uma sessão única, improvisada, sem retakes, overdubs ou edições/adições posteriores.
This album is the result of a single session, improvised, with no retakes, overdubs or later editions/additions
Em extinção – Eletrônicos/Electronics
Diego Dias – Sopros, Eletrônicos/Reeds, Electronics
Moisés Rodrigues – Guitarra,Eletrônicos/ Electric Guitar, Electronics
Em extinção é Rayra Costa
Gravação/Recording & Master: Estúdio Áudio Porco, 21/08/2018, Porto Alegre, Brasil, by Diego Dias on a ZOOM H5N.
Capa/Cover: Rayra Costa
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Excesso.
Processos massificados.
Generalização em nome da velocidade.
Bramir repete, retoma, estende… até surgir uma voz que busca quietude.
Interferência, dança, jogo.
Bramir é um projeto eletrônico de Diego Dias.
Linda O Keeffe/ Em extinção/ Isabel Nogueira/ Input Nulo: Eletrônicos/Electronics
Capa/Cover: Linda O Keeffe
Gravação/Recording & Master: 12.08.18, live at Lugar – Porto Alegre, Brazil -, by Linda O Keeffe
A ordem das faixas do álbum é a mesma na qual ocorreram as performances.
Track order on this album is the same in which the performances have occurred.
É um ciclo mensal de concertos de músicas de mulheres, promovendo a visibilidade e a inclusão de práticas musicais e sonoras, eletrônicas e eletroacústicas das pessoas nascidas mulheres e/ou auto identificadas como mulheres, valorizando sua produção.
A produção das compositoras e artistas sonoras tem estado historicamente ausente e invisibilizada no âmbito dos livros e estudos sobre produção musical, história da música e composição musical, o que justifica um trabalho de levantamento, reconhecimento e visibilidade desta música, suprindo ausências e problematizando os silenciamentos.
Ao mesmo tempo, o Ciclo Sônicas projeto não busca apenas um esforço compensatório, mas objetiva oportunizar a inclusão e fomento desta produção nos lugares de prática musical, a visibilidade das redes existentes e o surgimento de novas redes de colaboração, aliado à possibilidade de reflexão no ambiente acadêmico sobre as motivações, trajetórias e implicações destes processos artísticos.
O projeto é coordenado por Isabel Nogueira, Isadora Nocchi Martins e Bê Smidt, tem realização do Grupo de Pesquisa em Estudos de Gênero, Corpo e Música do Instituto de Artes da UFRGS e apoio do Coletivo Medula de Experimentos Sonoros.
Sobre as participantes:
|| Linda O Keeffe (IRE/UK)||
A faixa explora as maneiras pelas quais as mulheres tem espaço para falar sobre certas coisas e outras não. Nesse trabalho eu desenvolvi um texto que foi baseado em vocalizações e não palavras, usando os sons como forma de expressão, tentando preencher esses sons com significados suprimidos. Isso é então refletido na paisagem sonora que se ergue por detrás das palavras e dos sons. Os sons abstratos adicionam sentidos às palavras ou tentam silenciar aquela que as fala.
|| Isabel Nogueira + Input nulo (Tiziana Scur)
Nesta faixa, Isabel Nogueira e Tiziana Scur (Input Nulo) se articulam em uma aglutinação improvisada. A ordem fonética intuitiva das camadas de voz e a continuidade do ruído dialogam com os elementos de efeito, compondo uma linguagem que narra os impulsos sonoros de forma meditativa
|| Em extinção || (Rayra Costa)
em extinção utiliza circuitos eletrônicos (no input), pedal de efeito, piezo e fontes naturais. Manipula o feedback do áudio resultante enfatizando o uso de sons sustentados ou repetidos.
ficha técnica
luciano zanatta: sintetizadores, pedais, saxofone, sequenciadores, bateria eletrônica,
sampler guitarra e processamento (mais produção, gravação, mixagem e masterização)
diego silveira: xilofone (faixa 3)
todas as composições são de luciano zanatta, a faixa 3 em parceria com diego silveira
os títulos das músicas são trechos de contos do livro “ares condicionados” de demério panarotto, menos o da faixa 1
a faixa 7 foi lançada anteriormente com o título “guitambura” no va – operation test (plataforma 134) da plataforma records
realizado entre 2011 e 2016
todas as canções de que ela gostava é sobre memória. ou melhor, sobre não-memória; no caso, sobre esquecer, sobre o que se esquece. é sobre todas as ideias que se tem quando já é tarde demais. sobre o que não se disse quando era possível e que agora já não é mais o caso.
foi com essa ideia em mente que fui juntando cacos de performances, gravações de rascunhos do que poderia vir a ser uma coisa mas que restou irrecuperável porque confiei em registros precários (ou não me importei com registros confiáveis, o que não é a mesma coisa mas não é o assunto dessa breve descrição)
num certo momento surgiu o nome, como um mote que juntava essa coleção de desajustes. mais tarde, lendo o livro do demétrio (ares condicionados), identifiquei uma série de imagens que associei ao tema subjacente do disco. escolhi algumas frases dos contos para servirem de título às músicas e pedi a ele que escrevesse um novo conto, ouvindo as músicas e tendo apenas a frase-mote como referência*.
na última etapa, fiz os sons se acompanharem de imagens, numa série de vídeos que capturam banalidades cotidianas e tentam extrair delas a expressividade de um momento daqueles que, mais adiante, a gente nem sabe porque lembrou.
*depois do conto pronto, contei ao demétrio, propositalmente tarde demais, que eu pensara em morte, ele escreveu sobre separação. tambem não é a mesma coisa mas às vezes é como se fosse.
“todas as canções de que ela gostava” (all the songs she used to like) is about memory. or rather, about non-memory; in this case, about forgetting, about what you forget. it’s about all the ideas one has when it’s too late. about what was not said when it was possible and which isn’t the case anymore.
it was with this idea in mind that I started collecting shards of performances, draft recordings of what could become one thing but remained unrecoverable because I relied on precarious records (or I didn’t care about reliable records, which is not the same thing but isn’t the subject of this brief description)
at one point the name appeared, as a mote that added together this collection of mismatches. Later, reading the book by demétrio panarotto (ares condicionados), I identified a series of images that I associated with the underlying theme of the disc. I chose some phrases from the short stories to be the title of the songs and asked him to write a new one, listening to the songs and having only the phrase mote as a reference*.
in the last stage, I made the sounds be accompanied by images, in a series of videos that capture daily banalities and try to extract from them the expressiveness of a moment of those that, later on, we do not even know why we remember.
* After the short story was ready, I told demétrio, purposely too late, that I had thought about death, he wrote about separation. Isn’t also the same thing, but sometimes it feels like it is.
Capa/Cover: Filipi Pompeu
Gravação/Recording: 24/02/18 Estúdio Marquise 51, Porto Alegre, Brazil, by Diego on a ZOOM H5N recorder.
Live, no editions.
Mastering: Diego
Leda, em seu sono furioso, viu-se dispersa numa constelação trêmula.
A reação que tinha era convulsa: bruxuleava em enumerações.
Nesta terra que não dá descanso, seu eixo fora alterado à força, circundando o retículo amargo das imperiosas necessidades.
Dentro da casca da árvore, um diagrama.
Veios de seiva a redigir épicos desterrados.
Lá, no coração da enchente, Leda aflui.
Diego Dias – Sopros/Winds
Marcio Moraes – Guitarra/Electric Guitar
Michel Munhoz – Bateria/Drums
Cover/Capa: Michel Munhoz
Mastering: Diego Dias
Gravação/Recording: 10/03/2016. Musitek Estúdio, Porto Alegre, RS, Brasil.
This was considered a “lost” album by Honorável Harakiri. Our recordings were always done under much less than ideal conditions, but this one had many other problems, considering that there was even a rock band sounding in the contiguous room. When we first listened to it, we were more disheartened that, also, the reeds went very offmike during some parts… so we agreed we would not release it.
But time passed and we decided to listen to it again. The files were deep buried in some old hard disk, but we managed to find it. We did what we could and what knew with the raw files, and now we present some forty minutes of the dense energy of HONORÁVEL HARAKIRI.
This is the last volume of the trilogy started with HONORÁVEL HARAKIRI (2013, MSRCD038), followed by OS SURDOS HERDARÃO A TERRA (2013, MSRCD041).
This album also marks MANSARDA RECORDS’ 90th release, on the day of its 6th anniversary.
Thanks!
Este é um álbum do Honorável Harakiri considerado como perdido. Nossas gravações sempre foram feitas em condições muito abaixo das ideais, mas esta tinha ainda muitos outros problemas, considerando que havia inclusive uma banda de rock tocando na sala ao lado. Quando da primeira audição, ficamos ainda mais desolados ao notar que os sopros estavam distantes do microfone durante algumas partes… então decidimos que não lançaríamos.
Mas o tempo passou e decidimos ouvir de novo. Os arquivos estavam profundamente enterrados em um velho disco rígido, mas conseguimos localizá-los. Fizemos o que pudemos e o que sabíamos com os arquivos brutos, e agora apresentamos uns quarenta minutos da densa energia do HONORÁVEL HARAKIRI
Este é o último volume da trilogia iniciada com HONORÁVEL HARAKIRI (2013, MSRCD038), seguida de OS SURDOS HERDARÃO A TERRA (2013, MSRCD041).
Este álbum também marca o nonagésimo lançamento da MANSARDA RECORDS, no dia de seu sexto aniversário.
Obrigado!